Tudo começou na sexta-feira bem cedo. Foi um dia a duzentos à hora para ter tudo pronto até às 17:30. Com mais ou menos algum atraso, lá consegui ter tudo pronto e sair rumo à rotunda Centro-Sul eram 18:25. E, 15 minutos depois, já me encontrava lá a marcar o ponto de presente... pronto para a aventura.
Depois de uma viagem de aproximadamente três horas porque o guia se enganou no caminho duas ou três vezes, eis que chegamos à Amendoeira do Campo. Uma breve paragem no centro da aldeia, curta o suficiente para percebermos que estávamos na Amendoeira errada. Seguindo caminho, alguns largos minutos depois, muitas cortadas rumo ao incerto, lá demos com a Amendoeira da Serra, onde um café aberto nos esperava com uma saborosa tigela de canja.
Seguimos então por uma estrada de terra, mais lama que pó, noite escura, debaixo de chuva e em direcção ao monte desconhecido. Esperava-nos um local isolado, no meio do Alentejo, junto de um monte. Palhotas redondas de pedra e madeira, sem energia eléctrica e duches de água quase sempre fria. À boa maneira de puros caminheiros.
Fim da estrada. Chegados ao que parecia ser o fim da estrada, demos com uma propriedade com uma casa de campo e escuro como um breu em todos os arredores. Olhamos em todas as direcções e nada. Decidimos então pegar em frontais e aventurarmos-nos pela escuridão. Como a procura estava a revelar-se um desastre, o Carlos decidiu tirar o caseiro da cama. E, assim, pouco depois estávamos todos de malas na mão a caminhar em direcção à um circulo de palhotas, parecidas, retiradas de um acampamento Apache.
Com uma pequena lanterna, formato olho de boi e com a preciosa ajuda do frontal, foi possível com algum trabalho, colocar quatro pessoas, colchões e sacos-cama dentro da palhota. Depois de uma noite em que adormeci ao som das cigarras e do cantar das rãs
(tive quase, quase para sair do quentinho de persegui-la).
Sábado, sete e meia da manhã... alvorada!!! Depois de um banho quente e todo o equipamento preparado e um pequeno-almoço rudimentar. Assim que todos estavam prontos, rumamos ao Pomarão, onde 20 km de caminhada nos esperavam.
Ali, naquele recanto a menos de 500 metros de Espanha, um temperatura amena e umas gotas de chuva por nós aguardavam. O Pomarão, antigo terminal ferroviário e portuário do Guadiana, tranquilamente e indiferente ao progresso, conserva grande parte da sua magia de antigamente. Até o antigo passadiço de madeira férrea resiste indiferente ao desgaste tempo.
Aqui o primeiro contratempo. Tivemos de encurtar caminho pelo estrada. O primeiro dos muitos túneis estava inundado com água acima da cintura. Começamos então com 4 km de alcatrão, sempre a subir e em alguns troços bastante inclinados. Pelo caminho uma barragem de comportas abertas, com a cota há muito ultrapassada. Um espectáculo sempre digno de registo e apetecível para fotógrafos amadores que pretende tentar um "véu de noiva".
Findo o atalho, foi tempo de regressar ao estradão de terra batida, em tempos uma linha de comboio, onde já não restam travessas nem marcas passadas. Restam sim, os túneis escavados no rocha, as inúmeras pontes caídas, antigos edifícios de apoio, entre eles estações e armazéns, todos eles em ruínas. Quem por ali passa e se esforça mentalmente numa viagem ao passado, dificilmente consegue desassorear-se do vazio a que foram entregues aqueles grandiosos pedaços de história.
Ao todo contei 21 pontes caídas, tendo sido na sua maioria uma aventura cruzar todos os cursos de água que deveriam facilitar de transpor. Tinha chovido muito antes e um pouco durante. Pequenos fios de água, eram agora cursos de água largamente superiores ao diâmetro do raio de acção das nossas pernas.
Mas findo o percurso, mais propriamente nas povoação de Minas de São Domingos, o contentamento era geral. Sem dúvida um bonito e atraente percurso ali mesmo junto ao terrível abandono a que foram votadas. Será imprudência ou não, mas ali existe um local a céu aberto, mal vedado, onde um atraente lago de águas avermelhadas, desperta uns perigosos 2, na escala do PH. Um pouco ácido para tanto desmazelo-lo.
Findo o percurso, nada como voltar ao nosso monte, ainda que temporário, para desfrutar de um agradável banho de água gelada, onde o sole mio foi sem dúvida mais um gemido que uma canção popular.
Depois de um dia de alta actividade física, nada como um jantar composto. E que bem que soube a caldeirada de bacalhau
(oficialmente grelhado) e o borrego. Acompanhada de um terrivelmente
(para apreciadores) agradável
(para os restantes) vinho Navegantes.
Findo o dia, hora de dormir, pois uma alvorada às 8:30 nos esperava no dia seguinte. A noite passou-se às cotoveladas ao do lado... afinal a rã já nem se conseguia ouvir. E, madrugada, manhã, rompeu no consciente como pregos as espetarem-se na madeira... chovia para caramba.
Quando a chuva finalmente acalmou, foi hora da visita de estudo ao
Monte do Vento. Este assume-se actualmente como uma área experimental e demonstrativa onde se desenvolvem estudos e projectos que promovem uma correcta gestão dos recursos naturais presentes, conciliando a conservação da natureza com o desenvolvimento sustentável da região.
Por entre estufas de agricultura biológica, plantas aromáticas, galinhas, cabras, burros e grandes plantações, há de tudo um pouco nesta quinta ecológica. Finda a visita e aparentando estar a chegar uma tormenta, dada a quantidade de trovões e relâmpagos à distância, ainda cedo para almoçar, decidimos um salto dar até ao Pulo do Lobo.
O Pulo do Lobo, tal como diz a lenda é um local onde acontece um estreitamento do rio Guadiana, por entre cascatas, onde antigamente os lobos tinham de saltar, porque eles estavam de um lado e a carne do outro.
Com a chuva a intensificar-se, foi tempo de rumar ao restaurante da véspera, para uma pratada de Lampreia
(brrrr) e Migas Alentejanas enfardar.
Ainda de barriga cheia e porque o sol ameaçava, nada como terminar a aventura com um passeio a Mértola, por entre histórias e fantasia. Pela primeira vez, subi à torre do Castelo, brilhante ao Domingo não se pagar. Paisagens de cortar a respiração, em muito ajudaram a levantar a moral para quase 250 km depois, a rotina quase normal tomar.