quarta-feira, 27 de abril de 2011

Operação Final da Taça da Liga

 A operação propriamente dita começou vários dias antes com a deslocação ao Estádio da Luz para aquisição do bilhete que dava acesso ao Estádio Municipal de Coimbra para assistir in-loco ao jogo entre os vermelhos e os amarelos.

 Depois continuou na sexta com uma deslocação à Gare do Oriente para comprar um bilhete de IC apenas de ida para Coimbra. Custou a módica quantia de 16.50€ (depois querem que deixemos o carro em casa).

 No sábado, dia do grande acontecimento, ainda atordoado da meia final da Taça de Portugal, vesti as jeans e as botas. Em cima apenas a camisola do Glorioso e o cachecol preso na presilha das calças. Uma mochila às costas apenas com o essencial, tal como umas leituras educativas (uii..) e sai de casa em direcção à estação de Sacavém, uns 30 minutos mais abaixo.

 Já tinha passado por baixo da auto-estrada, quando uma forte chuva colocou à prova a resistência do meu impermeável. Prova superada. Por momentos senti-me peregrino a caminho da nossa Meca. Cerca de vinte minutos depois estava na estação. Pelo caminho um grupo de adeptos que enchia o carro meteu-se comigo. Estavam também eles cheios de esperança por uma viagem "sem vau". :)

 Na estação esperei o comboio. E enquanto ele não chegou, uma senhora preocupada perguntava se o Benfica jogava em casa. Ia para o Hospital das Lusíadas e estava preocupada com a confusão. Quando lhe disse que era em Coimbra, desde logo descansou e desejou uma grande vitória.

 O comboio chegou e depois de uma pequena análise à localização do revisor, lá decidi entrar numa das carruagens de trás. São apenas duas estações e um bilhete de euro e quarenta. Não me apeteceu pagar. Como o pica ia a caminho da frente, decidi colocar-me a caminho de trás. Chegado ao Oriente, dois segurançam meteram-se e perguntavam-me se ia a Coimbra. Quando lhes disse que sim, ficaram atordoados. Valeria o investimento? Claro que vale, respondi, nem que seja pela viagem. :)

  Depois uma rápida visita a um Vasco da Gama a transbordar, apenas para comprar uma sandes à escolha no Vitaminas. Uma baguete de pão de cereais com alface, cenoura, mussarela, salmão fumado e molho pesto. Este seria o meu lanche ajantarado. Foi devorado rapidamente lá prós lados do Entroncamento.

 O comboio era um vulgar IC (Intercidades) com bilhete de segunda classe. O 62 era um lugar bem situado. Se por um lado estava mesmo junto à janela e de frente, conforme pedido. Mesmo aconchegado, estava uma brilhante rapariga com uma fantástica mini-saia. De seu nome Sofia, era uma "jóia" de rapariga... LOL

 A chegada a Coimbra fez-se em pouco menos de duas horas. Na estação perdida em plenos arredores, uma  informação para desinformados alertava para a inexistência de comboio de ligação à cidade com brevidade. A próxima composição para esse percurso de poucos minutos apenas partiria dentro de uns módicos cinquenta minutos. Se para muitos foi uma batida de coração, para mim foi um simples sorriso. Assim, podia ir a pé com uma boa justificação. :D

 Ia a caminha para fora da estação quando senti um vulto a correr atrás de mim, um berro de chamamento fez-me parar. Era um jovem com um aspecto estranho. Dizia-me meio atabalhoado que para ir para a cidade tinha de apanhar um comboio do outro lado. Expliquei-lhe que sabia, mas que tinha intenção de ir a pé, ao invés de esperar os cinquenta minutos. Fez-me uma cara de assustado e explicou-me que a cidade não era já ali. Disse-lhe que conhecia e que para quem faz na boa vinte quilómetros no meio do mato, aquilo seria uma brincadeira. Mais aliviado ainda me disse que podia apanhar o autocarro, mas quando lhe disse que queria mesmo era ir a pé para o estádio (+/- 5km), desejou-me boa sorte para o jogo e que iriamos com certeza ser campeões e partiu...

 Segui então em direcção à rotunda da Casa do Sal, junto da entrada norte da cidade. Pelo caminho uma pessoa já de idade, como camisola de daquela cor indigesta, de polegar em rixe vira-se para mim e diz-me - "Hoje é o nosso dia. Hoje vamos ganhar." Sorriu firmamente em sinal de concordância. Damos um forte aperto de mão e despedimo-nos cordialmente. Foi muito fixe. Logo depois, aparece outra pessoa, aparentando ter uns cinquenta anos a perguntar se sei como se vai para o estádio. Explico que pode apanhar o 5T, mas queria saber se dava para ir a pé. Explico que vou a pé para lá, mas que estou habituado a andar. Pergunta a distância e o tempo. Não sei, nunca o fiz, mas penso que uma hora deva chegar. Pede-me "boleia". Explico que não vou directo. Preciso de cachear. Agradece-me a ajuda e parte para parte incerta.

 Chego junto da rotunda. Uma breve paragem no jardim para efectuar uma cacheada. Uma pedra enorme anuncia o artefecto. A dica diz - "Mete o dedo". Começo por meter a mão inteira. Depois vejo um burado tapado com uma pedra. Desconfio. Vou para mexer-lhe, mas uma lagartixa assusta-se e passa pelo buraco durante o momento em que me assusto. Sai do outro lado. Juntamente com ela vai uma pedra e uma cache. Um momento divertido e natural. Logo e volto a guardar. Desta vez sem lagartixa.

 Depois continuo a minha caminhada em direcção ao centro da cidade. Pelo caminho uma chamada do meu irmão a pedir-me ajuda para lhe explicar como se ia para um local. Explica-me que foi dar uma volta com um amigo e não sabe como se vai a pedantes para a universidade. Pergunto-lhe se vai ao jogo. "Jogo, qual jogo?", pergunta-me curioso. Explico-lhe que o Benfica vai jogar com o Paços. Não sabia. Dahhh... que raio de benfiquista?

 Descobrimos que num longo país, estavamos os dois em Coimbra. E, estavamos a cerca de quinze minutos a pé, um do outro. Digo-lhe que chego lá um quarenta minutos. Afinal ainda tinha duas caches pelo caminho. A primeira num fontanários junto do jardim da Manga, ficou para mais tarde. Afinal um lampião equipado a rigor, a olhar de forma atabalhoada para um fontanário junto de uma paragem de autocarro do centro dá imenso nas vistas. A outra, junta a uma igreja inundada de espanhóis também não é bom local para cachear.

 Encontramo-nos finalmente e fomos em direcção à universidade pela quebra-costa. Parámos numa casa de banho de rua para uma mijinha rápida por 0.20€ e seguimos em direcção à universidade. Andamos pelos átrios fechados para obras, atravessamos as matemáticas e fomos em direcção ao Penedo da Saudade. Pelo caminho umas casitas que faziam inveja a muita gente e muitos OANIS* vermelhos. Umas mais direitos, outros menos direitos, onde a quantidade de cerveja ia ditando os passos de cada um...

 O Penedo da Saudade é um miradouro natural existente dentro da cidade de Coimbra. A vista sobre as traseiras é de cortar a respiração. Lá em baixo, o estádio estava em plano de destaque. Mas encarnado que o normal, tinha num ponto amarelo o seu contraste principal. Cheguei em bom momento. Vindo lá de baixo, o som era estranhamente conhecido. Apenas se ouvia qualquer coisa coisa do estilo "Mostra a tua raça, querer e ambição... nós só queremos o Benfica campeão!!!". Era um momento esperado. Ao fundo, estava a chegar o vermelhão, o autocarro do glorioso... desta vez inteiro, pois ali não havia arruaceiros!!!

 Estava a ficar tarde, pelo que me despedi do brother e amigo. E enquanto eles voltavam para o carro eu continuava em direcção ao estádio. Pelo caminho, um daqueles seres vermelho vira-se para mim e pergunta-me se sou lampião. Olho para ele muito admirado e digo a disfarçar... - "Bolas, estou de vermelho!!! Se calhar sou." Ele sorri, abraça e voltasse para a cerveja. Eu continuo sorridente rua abaixo.

 Lá em baixo, por todos os cantos, leia-se tascas há tipos de amarelo e sobretudo de vermelho saudavelmente agarrados a bebidas também elas amarelas. Onde não há azul à mistura, consegue-se viver a festa do futebol.

 Como já é tarde e acho melhor petiscar algo antes do jogo. Vou então ao Dolce Vita, mas as filas rapidamente assustam-me. Decido então comer um gelado, mas lembro-me que já tinha comido um antes, pelo que vou até ao Jumbo. À falta de sandes já feita, decido-me por algo mais saudável. Compro então uma caixa de 500g de morangos. Passo pelo wc para lhes dar um banho e vou em direcção ao estádio a comê-los, agarrando pelo píncaro desde o interior do cesto.

 Chegado à porta 5B, uma fila de largas dezenas de metros assusta-me o bom humor. Junto da entrada, vários guardas tratam todos os seres humanos como potenciais terroristas se tratassem. Chateio-me com o guarda porque me quer meter as mãos nas malas como fosse tudo dele. Recuso. Ameaça-me prender, reclamo e a muito custo levo a minha a avante. Detesto guardas autoritários e com a mania que é tudo deles.

 Lá dentro o jogo apressasse por começar. Ainda chego a tempo do pontapé de saída. As cadeiras numeradas, estão todas desorganizadas. Não há numeração que resista pelo que os assistentes dizem ao pessoal para se sentar no primeiro lugar vago. O jogo começa e desde cedo o meu clube começa a controlar, Os golos chegam naturalmente. A festa timidamente se vai desenrolando.

 A segunda parte chega entretanto e com ela o mau futebol praticado. Os canários começam a assustar. Quase todo o estádio vibra, não de emoção mas sim de stress pós-traumático... até que o final do jogo tranquiliza a multidão. Terminou... somos finalmente campeões de qualquer coisa!!! A Taça da Liga é nossa pela terceira vez consecutiva. Já lhe chamam a taça encarnada!!! Hehehe...

 A festa acaba, todos os presentes vão saindo, cá fora timidamente se festeja. Ainda está tudo traumatizado com as amêndoas azuis a meio da semana.

 Para terminar a noite em beleza, só uma imperial Super Bock e de partida para outra.... :D

* Objectos Andadores Não Identificados...

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