segunda-feira, 2 de maio de 2011

Brutal!!!

Bolas, quando pensava que mais nada me podia surpreender neste país das bananas, eis que a curiosidade me levou à Amazon a ver se vendiam filtros para frigoríficos... e não é que vendem!!! E logo da marca e modelo que pretendo.

 Acabei de fazer o governo perder seis euros de impostos, mas que se lixe, eles também não me dão nada. O maravilhoso filtro que dura apenas seis meses, embora eu o estique por mais seis... custa em Portugal a módica quantia de 80 euros. No entanto estas coisas de ser curioso, resultam quase sempre grandes oportunidades. E assim, acabei de o comprar no estrangeiro, pela módica quantia de 27 euros já com portes de envio. E esta hei?

 Será que ainda faltam muito para criarem um supermercado Amazon, para que possa fazer as compras do mês com comodidade e a baixos preços?

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Operação Final da Taça da Liga

 A operação propriamente dita começou vários dias antes com a deslocação ao Estádio da Luz para aquisição do bilhete que dava acesso ao Estádio Municipal de Coimbra para assistir in-loco ao jogo entre os vermelhos e os amarelos.

 Depois continuou na sexta com uma deslocação à Gare do Oriente para comprar um bilhete de IC apenas de ida para Coimbra. Custou a módica quantia de 16.50€ (depois querem que deixemos o carro em casa).

 No sábado, dia do grande acontecimento, ainda atordoado da meia final da Taça de Portugal, vesti as jeans e as botas. Em cima apenas a camisola do Glorioso e o cachecol preso na presilha das calças. Uma mochila às costas apenas com o essencial, tal como umas leituras educativas (uii..) e sai de casa em direcção à estação de Sacavém, uns 30 minutos mais abaixo.

 Já tinha passado por baixo da auto-estrada, quando uma forte chuva colocou à prova a resistência do meu impermeável. Prova superada. Por momentos senti-me peregrino a caminho da nossa Meca. Cerca de vinte minutos depois estava na estação. Pelo caminho um grupo de adeptos que enchia o carro meteu-se comigo. Estavam também eles cheios de esperança por uma viagem "sem vau". :)

 Na estação esperei o comboio. E enquanto ele não chegou, uma senhora preocupada perguntava se o Benfica jogava em casa. Ia para o Hospital das Lusíadas e estava preocupada com a confusão. Quando lhe disse que era em Coimbra, desde logo descansou e desejou uma grande vitória.

 O comboio chegou e depois de uma pequena análise à localização do revisor, lá decidi entrar numa das carruagens de trás. São apenas duas estações e um bilhete de euro e quarenta. Não me apeteceu pagar. Como o pica ia a caminho da frente, decidi colocar-me a caminho de trás. Chegado ao Oriente, dois segurançam meteram-se e perguntavam-me se ia a Coimbra. Quando lhes disse que sim, ficaram atordoados. Valeria o investimento? Claro que vale, respondi, nem que seja pela viagem. :)

  Depois uma rápida visita a um Vasco da Gama a transbordar, apenas para comprar uma sandes à escolha no Vitaminas. Uma baguete de pão de cereais com alface, cenoura, mussarela, salmão fumado e molho pesto. Este seria o meu lanche ajantarado. Foi devorado rapidamente lá prós lados do Entroncamento.

 O comboio era um vulgar IC (Intercidades) com bilhete de segunda classe. O 62 era um lugar bem situado. Se por um lado estava mesmo junto à janela e de frente, conforme pedido. Mesmo aconchegado, estava uma brilhante rapariga com uma fantástica mini-saia. De seu nome Sofia, era uma "jóia" de rapariga... LOL

 A chegada a Coimbra fez-se em pouco menos de duas horas. Na estação perdida em plenos arredores, uma  informação para desinformados alertava para a inexistência de comboio de ligação à cidade com brevidade. A próxima composição para esse percurso de poucos minutos apenas partiria dentro de uns módicos cinquenta minutos. Se para muitos foi uma batida de coração, para mim foi um simples sorriso. Assim, podia ir a pé com uma boa justificação. :D

 Ia a caminha para fora da estação quando senti um vulto a correr atrás de mim, um berro de chamamento fez-me parar. Era um jovem com um aspecto estranho. Dizia-me meio atabalhoado que para ir para a cidade tinha de apanhar um comboio do outro lado. Expliquei-lhe que sabia, mas que tinha intenção de ir a pé, ao invés de esperar os cinquenta minutos. Fez-me uma cara de assustado e explicou-me que a cidade não era já ali. Disse-lhe que conhecia e que para quem faz na boa vinte quilómetros no meio do mato, aquilo seria uma brincadeira. Mais aliviado ainda me disse que podia apanhar o autocarro, mas quando lhe disse que queria mesmo era ir a pé para o estádio (+/- 5km), desejou-me boa sorte para o jogo e que iriamos com certeza ser campeões e partiu...

 Segui então em direcção à rotunda da Casa do Sal, junto da entrada norte da cidade. Pelo caminho uma pessoa já de idade, como camisola de daquela cor indigesta, de polegar em rixe vira-se para mim e diz-me - "Hoje é o nosso dia. Hoje vamos ganhar." Sorriu firmamente em sinal de concordância. Damos um forte aperto de mão e despedimo-nos cordialmente. Foi muito fixe. Logo depois, aparece outra pessoa, aparentando ter uns cinquenta anos a perguntar se sei como se vai para o estádio. Explico que pode apanhar o 5T, mas queria saber se dava para ir a pé. Explico que vou a pé para lá, mas que estou habituado a andar. Pergunta a distância e o tempo. Não sei, nunca o fiz, mas penso que uma hora deva chegar. Pede-me "boleia". Explico que não vou directo. Preciso de cachear. Agradece-me a ajuda e parte para parte incerta.

 Chego junto da rotunda. Uma breve paragem no jardim para efectuar uma cacheada. Uma pedra enorme anuncia o artefecto. A dica diz - "Mete o dedo". Começo por meter a mão inteira. Depois vejo um burado tapado com uma pedra. Desconfio. Vou para mexer-lhe, mas uma lagartixa assusta-se e passa pelo buraco durante o momento em que me assusto. Sai do outro lado. Juntamente com ela vai uma pedra e uma cache. Um momento divertido e natural. Logo e volto a guardar. Desta vez sem lagartixa.

 Depois continuo a minha caminhada em direcção ao centro da cidade. Pelo caminho uma chamada do meu irmão a pedir-me ajuda para lhe explicar como se ia para um local. Explica-me que foi dar uma volta com um amigo e não sabe como se vai a pedantes para a universidade. Pergunto-lhe se vai ao jogo. "Jogo, qual jogo?", pergunta-me curioso. Explico-lhe que o Benfica vai jogar com o Paços. Não sabia. Dahhh... que raio de benfiquista?

 Descobrimos que num longo país, estavamos os dois em Coimbra. E, estavamos a cerca de quinze minutos a pé, um do outro. Digo-lhe que chego lá um quarenta minutos. Afinal ainda tinha duas caches pelo caminho. A primeira num fontanários junto do jardim da Manga, ficou para mais tarde. Afinal um lampião equipado a rigor, a olhar de forma atabalhoada para um fontanário junto de uma paragem de autocarro do centro dá imenso nas vistas. A outra, junta a uma igreja inundada de espanhóis também não é bom local para cachear.

 Encontramo-nos finalmente e fomos em direcção à universidade pela quebra-costa. Parámos numa casa de banho de rua para uma mijinha rápida por 0.20€ e seguimos em direcção à universidade. Andamos pelos átrios fechados para obras, atravessamos as matemáticas e fomos em direcção ao Penedo da Saudade. Pelo caminho umas casitas que faziam inveja a muita gente e muitos OANIS* vermelhos. Umas mais direitos, outros menos direitos, onde a quantidade de cerveja ia ditando os passos de cada um...

 O Penedo da Saudade é um miradouro natural existente dentro da cidade de Coimbra. A vista sobre as traseiras é de cortar a respiração. Lá em baixo, o estádio estava em plano de destaque. Mas encarnado que o normal, tinha num ponto amarelo o seu contraste principal. Cheguei em bom momento. Vindo lá de baixo, o som era estranhamente conhecido. Apenas se ouvia qualquer coisa coisa do estilo "Mostra a tua raça, querer e ambição... nós só queremos o Benfica campeão!!!". Era um momento esperado. Ao fundo, estava a chegar o vermelhão, o autocarro do glorioso... desta vez inteiro, pois ali não havia arruaceiros!!!

 Estava a ficar tarde, pelo que me despedi do brother e amigo. E enquanto eles voltavam para o carro eu continuava em direcção ao estádio. Pelo caminho, um daqueles seres vermelho vira-se para mim e pergunta-me se sou lampião. Olho para ele muito admirado e digo a disfarçar... - "Bolas, estou de vermelho!!! Se calhar sou." Ele sorri, abraça e voltasse para a cerveja. Eu continuo sorridente rua abaixo.

 Lá em baixo, por todos os cantos, leia-se tascas há tipos de amarelo e sobretudo de vermelho saudavelmente agarrados a bebidas também elas amarelas. Onde não há azul à mistura, consegue-se viver a festa do futebol.

 Como já é tarde e acho melhor petiscar algo antes do jogo. Vou então ao Dolce Vita, mas as filas rapidamente assustam-me. Decido então comer um gelado, mas lembro-me que já tinha comido um antes, pelo que vou até ao Jumbo. À falta de sandes já feita, decido-me por algo mais saudável. Compro então uma caixa de 500g de morangos. Passo pelo wc para lhes dar um banho e vou em direcção ao estádio a comê-los, agarrando pelo píncaro desde o interior do cesto.

 Chegado à porta 5B, uma fila de largas dezenas de metros assusta-me o bom humor. Junto da entrada, vários guardas tratam todos os seres humanos como potenciais terroristas se tratassem. Chateio-me com o guarda porque me quer meter as mãos nas malas como fosse tudo dele. Recuso. Ameaça-me prender, reclamo e a muito custo levo a minha a avante. Detesto guardas autoritários e com a mania que é tudo deles.

 Lá dentro o jogo apressasse por começar. Ainda chego a tempo do pontapé de saída. As cadeiras numeradas, estão todas desorganizadas. Não há numeração que resista pelo que os assistentes dizem ao pessoal para se sentar no primeiro lugar vago. O jogo começa e desde cedo o meu clube começa a controlar, Os golos chegam naturalmente. A festa timidamente se vai desenrolando.

 A segunda parte chega entretanto e com ela o mau futebol praticado. Os canários começam a assustar. Quase todo o estádio vibra, não de emoção mas sim de stress pós-traumático... até que o final do jogo tranquiliza a multidão. Terminou... somos finalmente campeões de qualquer coisa!!! A Taça da Liga é nossa pela terceira vez consecutiva. Já lhe chamam a taça encarnada!!! Hehehe...

 A festa acaba, todos os presentes vão saindo, cá fora timidamente se festeja. Ainda está tudo traumatizado com as amêndoas azuis a meio da semana.

 Para terminar a noite em beleza, só uma imperial Super Bock e de partida para outra.... :D

* Objectos Andadores Não Identificados...

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Uma tarde cacheando

Era Domingo e não apetecia fazer nada, mas também não apetecia ficar em casa. Depois de uma breve olhadela para o mapa, as ideias de um local para passear não surgiam mesmo. Ali ao lado, Leiria, Coimbra e/ou Figueira da Foz, não incentivavam. Até que uma ideia brilhante apareceu do nada... Vou passear cacheando!!!

 E assim, defini um percurso, mais ou menos conhecido, mas pouco explorado com tanto pormenor. A primeira estava bem longe, lá para os lados de Quiaios. Foram quase trinta minutos de caminho para nada encontrar... :( A primeira cache veio a revelar-se uma desilusão. Está na praia de Quiaios, junto a um trilho de madeira. Procurei em cima, em baixo, à esquerda e à direita, apalpei, soprei, meti o dedo em todo o lado, mas a caixa não quis aparecer. Foi o primeiro revés do dia.

 Depois seguiu-se a das Dunas lá mais para o fundo. A dica dizia que se deveria ler um cima e procurar em baixo. Acabei de fazer tudo em baixo porque a placa estava caída. E tal como um pedaço de tijolo de lado não engana, a marota apareceu mesmo antes de a procurar. Foi a primeira caixa de rolo fotográfico do dia!!! :)  Como recompensa por a ter encontrado nada com um Magnum Cone comprado ali perto e um desfrutar da aragem marinha que ali ao lado se fazia sentir com imensidão.

 Gelado comido, eis o momento de por caminhos estreitos e cheios de simbolismo, abarcar em direcção à serra, a Serra da Boa Viagem. Ai tinha mais uma num local já bastante conhecido - o miradouro da Bandeira. Um local alto e com grande visibilidade sobre o mar, o pinhal e as lagoas lá em baixo. Um daqueles locais que merece ser visto e revisto, mas não só pelo papa e pelo bispo. :) A cache estava do lado direito, mesmo junto do precipício, mas bem disfarçada de calhau. Foi das mais engraçadas que já descobri. Corre é o risco de ser atirada monte abaixo por quem queira imitar uma avalanche.

 A paragem seguinte, foi um local onde antigamente costumava ver um rali denominado por "Volta a Portugal"  . Um local bonito, no ponto mais elevado da serra com vistas magnificas sobre o mar e a cidade da Figueira da Foz. Ali, mesmo junto à estrada está um monumento às floresta. A dica foi vital, estava mesmo lá. Nem foi preciso recorrer ao gps, embora me tenha picado todo para a retirar e recolocar lá.

 Logo de seguida foi a do abrigo de montanha, agora um restaurante mais ou menos fechado. :) Esta estava no jardim e foi pisada sem querer, pelo que foi fácil de aparecer, mas complicada de esconder. As pedras não encaixavam direito, como que a dar razão àquela velha máxima que diz que sobram sempre peças no final.

 Depois de descida a serra, a primeira cá de baixo foi feita em Buarcos, quase junto ao mar. Uma velha chaminé recuperada era a razão de ter sido colocada naquele lugar. Esta, embora simples e facilmente localizada, dentro de uma árvore magnetizada, foi complexa de retirar e logar. Havia uma mulher que não largava a varanda e tirava o olhar. Estava curiosa com um gajo que andava por ali de um lado para o outro a espreitar por trás das ramagens. Tive de desistir e voltar para o carro para ela desarmar e aí... voltei para trás e foi só assinar.

 Mais uns quilómetros de carro e eis que surge a Fortaleza de Buarcos. Esta aparentemente era fácil, bastava sentar à direita e por baixo apalpar. Pode-se dizer que tudo por ali foi apalpado, pena que a cache não tenha sido encontrada...

 E para finalizar a tarde de cacheadas, só faltavam as do extenso areal da Figueira da Foz. Depois de uma longa e fria caminhada pelo avenida de madeira que corre paralela equidistante da praia e da marginal, lá apareceu outra meia enterrada. E quando o gps já dava sinal de não querer trabalhar mais, eis que me chego ao local da última do dia, mas uma avó e neta estrategicamente colocadas naquele banco de oásis, tristemente me obrigaram a deixá-la para trás sem a assinar.

 Depois, foi só regressar para jantar e assim se passou mais uma bela tarde de Primavera.

terça-feira, 29 de março de 2011

Expedição aos Picos da Europa - Carnaval 2011 (4/4)


Na manhã seguinte, ainda de madrugada, aos poucos, corpos meio enrrugados com malas empanturradas, iam a conta gotas saído do hostal. Cá fora o tempo parecia pouco agradável. A nublina tomara conta da paisagem, a aragem fresca convidava a polar, a tristeza da partida inundava o ar. Felizmente a felidade de ali termos estado e vivido aqueles momento era mais forte que qualquer sentimento de contrariedade.

A viagem foi muito nostágica e fria. Dentro da nossa carrinha, meia humanidade dormia, a outra olhava em frente e deixava-se levar, talvez por pensamentos vazio. A viagem foi fluindo a pouco mais de cento e dez quilómetros por hora. A fome começou a apertar e mais uma vez o Carlos fez questão de colocar os seus conhecimentos à prova. O pessoal, já começava a duvidar, mas dá sempre nova oportunidade. Decidimos então parar numa área de serviço que a placa indicava. Andamos uns três quilómetros para trás e eis que demos com uma povoação, onde a ar de serviço era básica e sem qualquer local para manjar. Fomos então à única tasca aberta nos arredores. Era uma espécie de hamburgueria, mas sem hamburgueres. Apenas havia uns petisco que aparentavam ter tanto bolor como o queijo de Cabrales. E para aí umas trinta vezez mais de gordura. Depois de quase todos pedirem, quando já não havia quase nada para comer, resolvi deixar todos aqueles que já apresentavam cara de enjoados ainda mais salivantes... ao pedir um bocadillo com queijo e presunto. Foi aí que se levantou um surur de surpresa naquelas cabecinhas e alguém pergunta timidamente – “Há sandes?”... LOL

Depois de almoço a viagem ainda foi mais calma, sempre na velocidade certa e sem oscilações. Palavra do condutor de trás. Até à área de serviço de Abrantes, tudo correu a velocidade cruzeiro ou não fosse eu a conduzir. É que por muito maluco que às vezes seja a conduzir, apenas o faço sozinho, por respeito a quem conduzo. Mas em Abrantes, desta vez o clima estava muito mais calmo que na ida. Desta vez não houve confusão com chávenas a partir. Mas desta houve cache. Havia ali um artefactado perdido e com a ajuda do telemóvel e a clareza da posição, o grupo dos vassouras com toda a calma encontrou-o, registou-o e recolocou-o no seu devido lugar.

E mais ou menos assim, horas mais tarde em Lisboa, tinha terminado mais uma fantástica aventura. Agora, aguarda-se ansiosamente pela próxima... lá para os lados de Gredos. Embora, quase todos os fins-de-semana tenham ocorrido outras bem mais próximas dos nossos lares!!!

Expedição aos Picos da Europa - Carnaval 2011 (3/4)


Chegamos assim à segunda-feira de Carnaval, o dia apresentava-se frio e tristonho desde a janela do segundo piso, onde por volta das sete horas locais tentava abrir as pestanas. Lá em baixo, já meio mundo tomava a refeição mais importante do dia para uma caminheiro. Terminada esta e já fora de portas, a ansiedade era grande. Estavamos a pouco mais de cinquenta quilómetros de iniciar a famosa Ruta del Cares. Um trajecto pedestre sinuoso e cheio de precipicios que segue o rio Cares ao longo de um percurso de aproximadamente doze quilómetros. Isto oficialmente, pois os gps presentes marcaram todos aproximadamente dezoito. Pequenos pormenores para quem ama a natureza como se parte dele fizesse.

Chegados ao ponto de partida por uma estrada estreita entre o rio, lá em baixo, e as montanhas, lá em cima, eis que todos sem excepção, saltam, como se de molas se tratassem, das  carrinhas para fora e começam a preparar os provisões de combate. A temperatura não pode ser mais perfeita. Nota-se uma agradável brisa no ar, mas o sol ao longe cujos raios reflectem na neve com esplendor anima todos, mesmo os mais negativos. Embora, claro está... naquele momento não havia uma mente negativa nem ali, nem possivelmente nos arredores.

Ao fundo, junto ao inicio do trilho, uma placa dá-nos a conhecer o que nos espera. Um caminho estreito e por vezes escorregadio. Muitos túneis e locais impróprios para quem possa sofrer de vertigens. Acho que mesmo aqueles que não sofrem, iriam passar a sofrer. E para animar a malta, o gráfico não enganava, os primeiros três mil e quinhentos metros seriam sempre a subir. Antes de iniciar, ainda um outro aviso – o trilho teve um percalço a uns oito quilómetros dali – uma descida precipitada até ao fundo da ravina. Mas os alertas são claros, continua transitável. A protecção civil espanhola está lá a remendar o local.

Assim, conforme anunciado, os primeiros três mil e quinhentos metros são passados sempre a subir. Logo após o pequeno-almoço, não era o que mais queria, mas a sensação transmitida pelo silêncio daquela imensidão de rocha era mais forte que qualquer outra naquele momento. E assim, fomos subindo por um trilho sinuoso de pouca terra e muita pedra solta. Atrás tinhamos cada vez mais um fosso, um fosso fundo e a cada metro mais distante. Ao nosso lado, bem lá no fundo, tinhamos um rio de águas azuís quase transparentes, com uma água tipicamente caraibenha, mas exponencialmente  mas fresca que a de qualquer praia portuguesa. Estas deslizavam suavemente por entre rochas e rochedos, dando uma vitalidade incrivel ao momento. Do outro lado tinhamos montanhas, altas cheias de dureza, desde o verde verdejante junto das nossas sobrancelhas até ao puro rochedo que as acompanhava até ao topo branco extremanente brilhante. Um tom que apenas neve pura e impenetrável nos pode dar. O céu esse era de uma azul normal, mas tão normal que nem parecia normal, onde o sol expreitava e fazia as delicias de pequenos e graudos sempre que uma nuvem se desviava um pouco.

Ali só haviam fatos pintados de cores que caminhavam em fila quase indiana, bem junto das paredes, pois do outro lado a altitude era demasiado arrebatadora para ser ignorada. Junto a mim, cá mais atrás, apenas dois sons se distinguiam. Um clap, clap das imensas fotos que o grupo dos vassouras aproveitou para brindar a paisagem e um meu zumbido de estimação que não me dá treguas o tempo todo. É tão mau nunca conseguir estar em silêncio absoluto que às vezes apetece-me...

O percurso foi deslizando por baixo dos nossos pés como se uma coisa banal se trata-se. Naqueles quilómetros apenas os nossos olhos e sentimentos terão trabalhado de forma fugaz, como que se quizessemos mas não conseguissemos lugar para guardar e registar toda aquela paisagem diabólica.
Quase uma hora depois do restante grupo, nós os vassouras chegamos ao ponto de encontro do meio do trilho. Foi na povoação montanhosa de Caín que nos voltamos a encontrar. Os seis guerreiros lá de trás, tinham finalmente chegado. Os restantes companheiros de aventuras já tinham almoçado, estando a aproveitar o magnifico sol que a esplanada do bar gratuitamente nos proporcionava. Mas nós, os lentos não em pedalada, mas simplesmente em sentimentos e memória fotográfica estavamos com toda a certeza muito mais ricos em sentimentos de amizade e companheirismo.

Depois de almoço, foi um ver ao contrário, ou seja, o trajecto seguinte foi todo o percurso da manhã, mas em sentido contrário. Um misto de emoções ocorriam a cada momento que normalmente terminavam com um... “Nós passamos por ali?”, “Eh cum caraças, tinhas visto aquilo?”, “esta claridade para fotos é melhor que há bocado”. E lá seguimos nós, por todo o troço tirando fotos a cada pedaço. Ora ficava um para trás ora ficava outro. Eramos um grupo de seis sempre muito animado e onde cada vez mais se respirava amizade. O talvez cereja no topo do bolo, tenha aparecido já na parte final, numa descida de aproximadamente três quilómetros e meio, um inverso da partida. Aí, fomos confrontados com cabras espalhadas pelo trilho. Uma mesmo de frente, outras acima e abaixo. Todo o grupo foi obrigado, ainda que por vontade própria a suspender sua marcha. As cabras estavam demasiado domesticadas para se ignorarem. Somente não se puseram em posição de alinhamento com o Rui, pois teria dado uma foto muito interessante.

Passadas as cabras, já com algumas saudades, os últimos metro serviram para tirar uma fantástica foto a quem tentava em vão alcançar as casas impossíveis do outro lado. Ela bem tentava, mas o cumprimento de sua objectiva eram demasiado japonesa para além alcançar. Assim, serviu-lhe de consolação as fotos que lhe tiravam à traição. Depois, bem despois foi o chegar ao final do trajecto onde as restantes caras, aparentando um bater de palmas, esperavam ansiosamente pelo nosso regresso.

Tirada a foto de grupo, eis que o grupo partiu como um todo em busca de um merecido banho. Pelo menos esperava-mos que ao contrário do final anterior, houvesse água quente para todos. Mas como bons pensadores que alguns somos, houve um grupo que decidiu antes enverdar por uma compras finais, enquanto os restantes lutavam por gota a gota por um pedaço de água quente.

Comprei duas boas garrafas. Um traz licor de mel, mas daquele que se bebe à confiança e se tosse como uma criança, como uma caminhante hora depois da hora de deitar. Trouxer também uma garrafa muito engraçada com uma pega deitada, lá dentro uma muito interessante aguardente de orujo, para aqueles dias frios em que o organismo pede uma acendalha. E no outro saco vinha um dos famosos queijos de Cabrales. Um queijo forte e bem medido. Com aspecto podre, mas bem saboroso. Um daqueles queijos que bem podemos deixar esquecido no fundo do frigorifico, pois ganhe ou não bolor, para nós estará sempre com o aspecto actual.

Depois o jantar, desta vez num restaurante com mais alguns créditos, onde as entradas de queijos variados quase deu para cheirar um Alentejo mais descaracterizado. O Costelon também não estava mal, mas nem todos comeram por igual. Uns vinham muito passados, como sola de borracha. Outros mal passados, parecendo um bicho acabado de matar. Felizmente, alguns tiveram a sorte do seu lado... Depois, como se todos nós fossemos invadidos por um sentimento de nostalgia, ninguém queria ir deitar. Uns foram emborcar mais umas litradas de sidra, outros como eu preferiram andar pelo vazio. A nostalgia impragnava o ar. No dia seguinte seria a partida e aquele fantástico grupo parecia decidido em não voltar.